A longevidade e segurança das estruturas de concreto dependem de muitos detalhes decisivos no canteiro de obras para a qualidade final da construção, dentre esses fatores, destaca-se o cobrimento do concreto.
Embora pareça um aspecto simples, exige atenção e técnica, pois pequenos deslizes podem comprometer a integridade dos elementos estruturais de concreto armado ou protendido.
Por outro lado, o engenheiro estrutural indica todos os cobrimentos necessários no projeto, com base na norma brasileira.
Cabe, então, aos responsáveis pela construção cumprir essas exigências com rigor e precisão.
Portanto, vamos entender o que é o cobrimento do concreto e os principais aspectos envolvidos na NBR 6118:2023.
O que é o cobrimento do concreto?
Então, o cobrimento do concreto refere-se à distância entre as armaduras de aço e a borda do concreto, ou seja, a parte superior, inferior ou lateral de uma viga, pilar, laje ou fundação.
Trata-se de um pequeno espaço entre a armadura e a face interna da fôrma, antes da concretagem, que define a posição correta do aço na estrutura.
Assim, em caso de falhas nessa barreira de proteção, as armaduras ficam vulneráveis à infiltração de agentes externos.
Aliás, o cobrimento do concreto é um dos aspectos mais relevantes para o desempenho estrutural e a durabilidade das construções em concreto armado ou protendido.
Essa camada de concreto cobre as barras de aço, pois é fundamental para proteger a estrutura ao longo do tempo, em diferentes condições de uso e exposição.
A seguir, destacamos os principais motivos que evidenciam a importância do cobrimento do concreto e suas implicações técnicas:
Proteção contra a corrosão das armaduras
Uma das funções mais críticas do cobrimento é a proteção contra a corrosão das barras de aço, caso elas fiquem expostas sob a ação de agentes externos:
- Umidade;
- Variações térmicas;
- Gases agressivos;
- Produtos químicos;
Deste modo, inicia-se um processo de oxidação; logo, compromete a seção útil da armadura e a capacidade resistente do elemento estrutural.
Portanto, o cobrimento atua como uma barreira física e química, pois dificulta a penetração desses agentes; quanto mais agressivo o ambiente, mais rigoroso deve ser o controle do cobrimento.
Resistência ao fogo
Sob altas temperaturas, o concreto mantém sua integridade estrutural por mais tempo que o aço, oferecendo maior resistência em situações de incêndio.
Assim, a camada de cobrimento funciona como um escudo térmico, pois retarda a ação de temperaturas elevadas nas armaduras internas.
Logo, mantenha sua resistência por mais tempo durante a exposição ao fogo; assim, esse tempo adicional é crucial para garantir uma intervenção emergencial.
Controle de qualidade e execução
A propósito, o cobrimento do concreto também está ligado ao controle de qualidade da obra, pois ele depende de técnicas bem definidas de projeto e execução, tais como:
- Cumprir as exigências das normas de projeto;
- Amarrar as barras de aço;
- Uso de espaçadores plásticos ou de argamassa;
Por essa razão, negligenciar essas práticas pode resultar em estruturas mais propensas a ter uma longevidade mais reduzida.
Logo, sem essa camada protetora eficaz, a estrutura sofre degradações precoces, logo, exige manutenções frequentes e, em casos mais graves, leva a colapsos estruturais.
Cobrimento do concreto nos elementos estruturais
Assim, a NBR 6118 estabelece os cobrimentos mínimos considerando as classes de agressividade ambiental (CAA) e as resistências características do concreto (fck).
Assim, ela define um cobrimento nominal (cnom), a partir de um valor mínimo (cmin), somado a uma margem de segurança (Δc) para tolerâncias na execução, ou seja:
- Equação: cnom = cmin + Δc;
Além disso, o cnom deve respeitar as seguintes condições:
- 1 – cnom ≥ φ (diâmetro da armadura);
- 2 – cnom ≥ φ (feixe) = φn = φ·(n)1/2;
- 3 – cnom ≥ 0,5.φ (diâmetro da bainha);
- 4 – dmax ≤ 1,2·cnom: dmax refere-se ao diâmetro máximo do agregado;
A seguir, a partir de diferentes tipos de ambiente, referidos às distintas classes de agressividade da NBR-6118, isto é, às classes I, II, III e IV, da Tabela 6.1, determinam-se os cobrimentos necessários pelas Tabelas 7.1 e 7.2, com Δc=10 mm.
Daqui em diante, os símbolos CA e CP referem-se a concreto armado e concreto protendido, respectivamente.
Cobrimento do concreto em zonas rurais
Essas regiões apresentam condições ambientais com agressividade muito fraca (classe I), logo, o risco de deteriorar o concreto é mínimo.
No entanto, a norma estabelece os seguintes valores mínimos de cobrimento e fck, resistência característica do concreto:
- Lajes: CA = 20 mm e CP = 25 mm.
- Vigas e pilares: CA = 25 mm e CP = 30 mm.
- Resistências mínimas do concreto: fck ≥ 20 MPa (CA) e fck ≥ 25 MPa (CP).
Nesse caso, também é necessário adotar CA = 30 mm, caso o elemento estrutural tenha algum contato com o solo.
Portanto, os valores indicados visam proteger a armadura, mesmo em ambientes pouco agressivos, como áreas rurais ou submersas.
Ambientes urbanos sem influência marinha ou industrial
Por outro lado, em centros urbanos sem a ação de maresia nem a emissão de poluentes industriais, o ambiente é considerado de agressão moderada, classe II.
Embora o risco de deterioração ainda seja pequeno, a norma recomenda cobrimentos um pouco maiores em relação às zonas rurais:
- Lajes: CA = 25 mm e CP = 30 mm;
- Vigas e pilares: CA = 30 mm e CP = 35 mm;
Ficam também sujeitos à obtenção de resistência mínima para o concreto, isto é, fck ≥ 25 MPa (CA) e com fck ≥ 30 MPa (CP), e considerar cobrimento de 30 mm, caso o elemento estrutural (CA) esteja em contato com o terreno.
Dito isso, esses valores visam atender às exigências em regiões urbanas e garantir a proteção adequada contra agentes agressivos presentes no ar ou no solo, mesmo em níveis moderados.
Cidades litorâneas e industriais
Devido à exposição constante à maresia ou ambientes industriais, com partículas agressivas no ar, caracteriza-se um local de forte agressividade, classe III.
Assim, propicia uma proteção mais robusta das armaduras, e, nesse cenário, as resistências do concreto devem estar entre fck ≥ 30 MPa (CA) e fck ≥ 35 MPa (CP) e os valores do cobrimento mínimo:
- Lajes: CA = 35 mm e CP = 40 mm.
- Vigas e pilares: CA = 40 mm e CP = 45 mm.
- Elementos em contato com o solo: CA = 40 mm.
Portanto, os projetos estruturais também devem conter as exigências da norma brasileira nas plantas para que os construtores cumpram com todos os objetivos.
Orlas marítimas e indústrias químicas
Nesse cenário, existem regiões com exposição ainda mais intensa, como zonas de respingos de maré, estruturas portuárias ou indústrias com agentes bastante corrosivos.
Nesses locais, o concreto está sujeito a deteriorações aceleradas se o cobrimento for precário e insuficiente, classe IV.
Nessa situação extrema de agressividade ambiental, os cobrimentos mínimos recomendados para lajes são: CA = 45 mm e CP = 50 mm.
Já para as vigas e os pilares, adota-se CA = 50 mm e CP = 55 mm, e, caso estejam assentados em terreno, CA = 50 mm.
Por outro lado, as resistências características mínimas do concreto devem obedecer também maiores valores entre todos os ambientes, ou seja, fck ≥ 40 MPa: (CA) e (CP).
Reduções permitidas no cobrimento do concreto
Em contrapartida, a norma admite redução de até 5 mm nesses cobrimentos mínimos em cada ambiente dos exemplos anteriores.
No entanto, deve-se garantir um controle bem rigoroso na execução e respeitar as exigências mínimas de resistência do concreto, conforme a Tabela 7.1.
Além disso, nas faces superiores de lajes com revestimentos secos, como carpete, madeira, argamassas e pisos, o cobrimento nominal (cnom) reduz para um valor maior ou igual a 15 mm.
Por outro lado, os reservatórios, estações de tratamento de água e esgoto, canaletas e afins também merecem suas devidas atenções.
Nesses casos, suas superfícies ficam expostas a ambientes bastante agressivos, portanto, seguem os padrões de cobrimento nominal da classe IV, regiões altamente agressivas ao ambiente.
Considerações sobre incêndio
Embora os cobrimentos mínimos exigidos pela NBR 6118 estejam relacionados à durabilidade e à proteção contra agentes agressivos, eles não atendem à necessidade em caso de incêndio.
Sobretudo, a NBR-15200 trata das exigências específicas de espessura de cobrimento, tempo de resistência ao fogo (TRF) e detalhes especiais em função do elemento estrutural.
Portanto, o cobrimento deve ser compatível com ambas as normas, podendo inclusive ser superior aos mínimos estabelecidos pela NBR 6118.
Considerações Finais
Então, o cobrimento do concreto é um dos parâmetros mais importantes na proteção e maior segurança das lajes, vigas, pilares e fundações.
Assim, cabe ao engenheiro estrutural avaliar o ambiente de exposição, seguir as exigências da norma com rigor, e indicar com clareza os dados no projeto e garantir que a execução no canteiro seja sempre fiel.
Embora as tabelas normativas sejam densas, o papel do profissional é transformá-las em informações claras e aplicáveis no canteiro de obras.
Além disso, aspectos como a resistência ao fogo exigem atenção complementar e compatível com a norma NBR 15200.
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